Soslaio

Viu a si, pedindo um cigarro, do outro lado do espelho.
Não achou tão estranho mas no mesmo momento que bateu em seus bolsos, lembrou-se que não fumava.

Turva era a sua visão, que naquele momento em especial, Gay-Lussac diria, que era pra lá de alta.
Atravessando o espelho, sua imagem escarrada e esculpida em um espelho de um bar do centro da cidade, cutucou-lhe o ombro, perguntando mais uma vez, mas não por cigarro e sim por um isqueiro.
Saiu da cabine com as mãos tremendo, assim como todo o resto do corpo, que acabara de ser testemunha do acontecido. Perguntando para toda uma fila de pessoas que aguardava impacientimente que fizesse o que tinha que ser feito, o mais depressa possível, para que o próximo tivesse a sua vez, se alguma pobre alma, teria um isqueiro.
Na negativa, esperou umas várias pessoas, que se maquiaram, evacuaram e fizeram "uso frutos" do toilette.
Como não iria, "se deixar na mão", aguentou firme e entrou na mesma cabine, mesmo com medo e sem certeza alguma se aquilo fazia algum sentido.
Encarou o mesmo espelho que interrogara, ainda pouco, por um simples isqueiro.
Dançou, piscou, fez careta e até de ponta cabeça ficou e sua imagem nada de tomar vida própria novamente.
Então quando ia saindo do banheiro, de alma lavada e mente sã, sentiu um cutucão batendo em seu ombro.
Achou melhor olhar de soslaio.
Vai saber o que queria?